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“A dança das cadeiras” nas passarelas de setembro de 2025: o que entregou — e o que falhou

  • inpact5
  • há 6 dias
  • 4 min de leitura
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Setembro de 2025 foi uma temporada de grandes apostas. Estreias aguardadas, diretores criativos recém-nomeados, expectativa de renovação. Mas no fim, o saldo — criticas, elogios e o olhar atento do mercado — revela muito mais matizes do que brilhos instantâneos.



1. Paris foi palco de promessas e tropeços


O epicentro da temporada primavera/verão 2026 trouxe a maior concentração de trocas criativas — e também de coleções que enfrentaram resistência. Segundo a cobertura da CNN, muitos desfiles mostraram cenários mais contidos e menor ostentação, mesmo com estreias marcantes.


Alguns pontos que mais chamaram atenção:

Jean Paul Gaultier estreou sob a direção criativa de Duran Lantink com macacões estampados com corpos nus — uma provocação (polarizadora) que gerou debates sobre choque versus coerência artística.

A crítica majoritária: era difícil decifrar se aquilo era rebeldia conceptual genuína ou tentativa de viralizar.

Miu Miu apresentou uma coleção centrada no simbolismo do avental, nas implicações “domésticas” femininas, costurando discurso e produto.

Apesar de respeitar uma narrativa interna da marca, alguns viram a coleção como literal demais — bela na foto, mas com dúvidas quanto à usabilidade real.

Loewe (sob os co-diretores Jack McCollough e Lazaro Hernandez) foi elogiada pela releitura de peças com uso funcional e estética leve.

A construção das peças foi bem recebida: forma e função dialogando, sem excessos. Mas o desafio permanece: converter esse diálogo em apelo comercial.

Celine, com Michael Rider em sua primeira temporada feminina completa, mostrou-se mais segura. A aposta recaiu sobre linhas elegantes, cortes clássicos, peças de armário reconhecíveis.

A crítica: uma transição menos dramática, confortável, mas talvez menos impactante — para quem esperava cortes revolucionários.



2. Críticas mais recorrentes — o saldo pesado para algumas casas


Ao analisar as resenhas e reações dos insiders e da imprensa especializada, algumas críticas foram repetidas em diversas maisons:

Excesso conceitual, falta de coesão: coleções que se perdem em ideias fragmentadas, muitas sublinhas conceptuais que diluem foco. Algumas estreias pecam exatamente por tentar abarcar muito.

Alienação do público “real”: peças belas nas passarelas, mas de difícil adequação ao dia a dia — especialmente em contextos de consumo mais consciente e segmentos que esperam uma ponte entre alta-costura e vestuário mais acessível.

Expectativa vs entrega simbólica: trocas criativas vêm envoltas em hype, porém nem sempre entregam o simbólico desejado — ou entregam tarde demais. O público espera que o “novo diretor” já nas primeiras coleções mostre sinais claros de identidade, e muitos não conseguiram.

Risco de descaracterização: algumas grifes perderam sinais fortes de identidade. A mudança estética foi vista por críticos como “lavagem de marca” ou “traça estilística”. Em vez de renovar, algumas coleções foram acusadas de apagar a história da casa.

Complexidade técnica que não dialoga com comercial: em meio a tecidos experimentais ou construções hiper elaboradas, há percepções de que o foco técnico se sobrepôs à viabilidade de produção, de escalabilidade ou de preço.



3. Alguns cases — o que deu certo (e onde ainda há terreno frágil)


Destaques

Loewe: conseguiu equilibrar inovação e usabilidade. A dupla criativa manteve certa sobriedade, sem romper abruptamente com o que a marca vinha fazendo, e foi elogiada por exatamente essa coerência.

Celine / Michael Rider: embora em transição, Rider optou por um caminho mais seguro — não chocou abruptamente, trabalhou familiaridade e detalhes refinados. Isso pode beneficiar a marca no médio prazo, evitando rupturas traumáticas.

Jean Paul Gaultier / Duran Lantink: apesar das críticas, trouxe personalidade, suspense e discussão. Em moda, provocar já é um tipo de retorno — embora se mantenha a incógnita se isso converte em sustentabilidade de marca.


Fragilidades

Miu Miu: a conexão conceitual do avental é inteligente, mas pode ser acusada de literalidade. Há risco de que parte da coleção fique relegada ao editorial, e menos ao guarda-roupa real.

Casos que “sumiram” ou não impressionaram: várias estreias ficaram obscurecidas pela saturação midiática. Se uma nova direção criativa não entrega “momento memorável”, é difícil se afirmar. A crítica aponta que muitas coleções pareciam variações de coleções anteriores — pouco “novo” de fato.

Sustentabilidade simbólica vs estrutural: embora muitos novos criativos declarem consciência (sustentabilidade, resíduo zero, matérias recicladas), poucos apresentaram rupturas nas cadeias produtivas. A crítica: muitas das afirmações ambientais ainda são retóricas ou superficiais com pouca comprovação visível na produção.



4. Impactos para o mercado & lições para o contexto local


A análise das fashion weeks de setembro 2025 oferece advertências valiosas:

• A moda não tolera “estreias mornas” convertidas em espetáculo vazio. O novo precisa dar sinal — logo, na primeira coleção — ou será considerado marketing.

• O equilíbrio entre risco estético e viabilidade comercial está mais exigente do que nunca. Quem morde demais, arrisca perder o chão; quem morde pouco, arrisca desaparecer.

• Em mercados menores (como Portugal por exemplo), o risco de “eco de tendências importadas” é alto: grifes nacionais podem imitar visuais repelidos internacionalmente. Há espaço para aprender com acertos e evitar armadilhas de cópia.


Para a Inpact Lab, isso significa que discutir direção criativa não é só mágica estética: é olhar para resultados, coerência de marca e diálogo com o público/mercado local.

 
 
 

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